Como nascem os livros feministas?
Como nascem os livros feministas?
“O fim do patriarcado e o início de uma nova era.
A transformação será feminista!”
Cecília Castro
A Coluna Pachamama no mês de novembro é comemorativa ao aniversário da Editora Luas e abre o texto com a frase de Cecília Castro que está publicada na apresentação do site da editora. A autora da frase é a criadora e diretora editorial da Luas. Na citação, a premissa é de uma “nova era” marcada pela contundente presença das mulheres nas práticas sociais, culturais, políticas e econômicas. A ação feminista é transformadora na medida em que impulsiona as mulheres a problematizarem o seu lugar no mundo e abre espaços para as novas gerações. E foi acreditando nisso que, em 2019, Cecília criou uma editora voltada para os textos literários e não ficcionais escritos por mulheres. Ressalto, ainda, que todo o processo de produção envolve o trabalho das revisoras, tradutoras, ilustradoras, diagramadoras e outras tantas mulheres ligadas à criação dos livros. As publicações da Editora Luas nascem embaladas pelas mãos de muitas mulheres, declaradamente feministas ou não.
A inspiração de Cecília Castro foi a Editora Mulheres. Criada em 1995 por Zahidé Lupinacci Muzart. Sua fundadora era, então, docente aposentada pela Universidade Federal de Santa Catarina e sua pesquisa sobre o resgate de escritoras do século XIX rendeu um projeto maior, o projeto editorial voltado para a recuperação das vozes destas escritoras silenciadas ao longo da história. Sua ideia inicial foi então reeditar livros de escritoras, brasileiras ou não, que haviam ficado esquecidos na poeira do tempo. Seguiu-se daí a publicação de textos de não ficção sobre questões de gênero. Vale ressaltar que os estudos de gênero chegavam ao Brasil entre as décadas de 1980 e 1990 e avançavam não somente nas áreas de humanidades, como também nas áreas tecnológicas, da saúde, entre outras. Dentre as muitas publicações importantes, destaco o livro A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas, cuja terceira edição nasceu na Editora Mulheres, foi coordenada por Zahidé Lupinacci Muzart e apresentada ao público por Constância Lima Duarte, que, além disso, realizou o cotejo com a primeira edição, escreveu um texto introdutório e as notas explicativas para contextualizar a obra original de 1899. Trata-se do primeiro romance fantástico publicado no Brasil. Apesar do pioneirismo da escritora Emília Freitas, sua obra ainda era pouco conhecida antes da publicação supracitada.
Tanto Zahidé, ontem, como Cecília, hoje, demonstram a preocupação com relação ao apagamento das obras escritas por mulheres. Corrobora com suas inquietações a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, cuja edição publicada em setembro de 2020, sob a coordenação do Instituto Pró-Livro, está disponibilizada gratuitamente na internet. A pesquisa objetiva avaliar o comportamento e os hábitos de leitura da população brasileira por meio de registros estatísticos. Em sua última edição, os dados são preocupantes para as mulheres, tendo em vista que são as que leem mais, porém, são menos lidas. Dentre as obras citadas, a maioria é de autoria masculina. Reflexo da obliteração da escrita das mulheres. Com vistas a minimizar os danos causados pelo apagamento das escritoras e de suas obras é que ao redor do mundo as editoras protagonizadas por feministas, declaradas ou não, publicam exclusivamente livros escritos por mulheres. Eis uma política feminista para salvaguardar as nossas vozes.
No calor dos movimentos feministas das décadas de 1960 e 1970 nasceu uma das primeiras editoras europeia dedicada à produção de livros de autoria feminina. A Éditions des femmes foi fundada em 1973 por Antoinette Fouque e se dedica exclusivamente a publicar obras escritas por mulheres. No mesmo ano ela inaugurou a Librairie des femmes no coração do quartier Saint-Germain. Desde então foi um local de encontros entre as feministas francesas e de descobertas para as mulheres do mundo, que visitam a livraria situada na rua Jacob, em Paris. A criadora da editora e livraria des femmes é escritora, filósofa, psicanalista, foi deputada no Parlamento europeu, membra da Comissão de Direitos da Mulher nos anos 1990 e ficou conhecida historicamente entre as feministas como uma das fundadoras do Mouvement de Libération des Femmes (MLF) em 1968. O MLF teve impacto forte na França e repercussão mundial, apresentava em sua pauta questões como a descriminalização do aborto, paridade, licença maternidade, liberação sexual, combate à lesbofobia entre outros tantos temas.
Antoinette veio ao Brasil em 1974 para participar de encontros feministas e, doravante, começou a publicar as traduções de algumas das escritoras brasileiras, por exemplo, Carolina de Jesus e Clarice Lispector. Ela recuperou o termo feminologia, cunhado nos anos 1980, para propor um campo epistemológico ou uma “ciência das mulheres”, sobre o tema escreveu a obra Féminologie, dividida em três tomos. Um dos mais importantes livros da autora publicados pela des femmes é Géneration MLF: 1968 – 2008, trata-se de um documentário volumoso que conta a história do MLF e suas repercussões em outros países. A editora francesa sacudiu o mundo das letras e colocou as mulheres como protagonistas de suas histórias, reunindo livros escritos a partir das experiências do feminino na cultura, na arte, na política, nas ciências etc. Na página virtual da livraria lemos: “écrire ne sera donc jamais neutre”. A ideia central é de que a escrita não é e jamais será neutra, ela reflete as experiências de quem escreve no mundo no qual participa.
Na página da editora Luas lê-se o mesmo anseio que vimos nas editoras Mulheres e des femmes, ou seja, o de “reunir mulheres em torno da linguagem escrita”. As mesmas estão cada vez mais em busca de grupos e coletivos para “exigir direitos e mudanças, transformar a realidade”, em cada encontro nota-se a troca de experiências e olhares sobre seus corpos e suas vivências no mundo. Com essas metas traçadas, a Editora Luas propõe a publicação de livros em três eixos: literatura contemporânea, não ficção, resgate de autoras do século XIX/XX, e, desde 2021, publica livros para crianças com o nascimento do selo Lunitas.
Apesar de criada recentemente, em meio a pandemia de Covid-19 e a crise econômica brasileira gerada por um governo golpista e avesso aos livros, à educação e à cultura, a editora já conta com quatro livros traduzidos, dois livros para crianças e 15 publicações até a corrente data. O livro Ecofeminismo, de Maria Mies e Vandana Shiva, publicado pela Editora Luas, pela primeira vez traduzido em português no Brasil, é uma das obras mais importantes na área que está avançando na academia e nos ativismos ecológicos. Na página da editora podemos acessar gratuitamente textos, manifestos feministas, entrevistas, matérias de divulgação na mídia e outras inovações. A Luas está nas redes sociais: Instagram, Facebook e no YouTube, onde encontramos lives com bate-papo, lançamentos de livros e entrevistas.
Retomo a questão inicial: como nascem os livros feministas? Para Cecília Castro, fundadora da Editora Luas, os livros feministas nascem do encontro de mulheres que anseiam dialogar sobre os seus corpos, os seus direitos, as suas demandas e agendas políticas, econômicas, sociais e culturais. Levantar a bandeira feministas em um país marcado pelo feminicídio, pelo machismo, pela misoginia é um ato revolucionário.
Vida longa à Editora Luas! Vida longa às editoras e livrarias feministas!
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Patrícia Lessa – Feminista ecovegana, agricultora, mãe de pessoas não humanas, pesquisadora, educadora e escritora.




Marielle Franco nasceu no dia 27 de julho de 1979 no Complexo da Maré, bairro localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. O complexo reúne um conjunto de favelas na periferia da capital fluminense. Seu nome de registro de nascimento é Marielle Francisco da Silva, porém ela ficou publicamente conhecida como Marielle Franco. Filha de Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto e irmã de Anielle Franco. Desde cedo Marielle assumiu responsabilidades junto a sua família, tais como os afazeres domésticos e os cuidados de Anielle Franco, sua irmã caçula.
Em 2016 Marielle foi eleita vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com 46.502 votos. Foi a quinta vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro. Durante o seu mandato, presidiu a Comissão da Mulher da Câmara. Coordenou com Marcelo Freixo a Comissão de Defesa de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ao longo do período que atuou como vereadora, apresentou dezesseis projetos de lei, sobretudo, direcionados às políticas públicas para mulheres, à população negra e da periferia e à comunidade LGBTQIA+.
Tão longe e tão perto de Tereza de Benguela, podemos inferir que as duas mulheres distanciadas pelo tempo e próximas em suas lutas sociais nos fazem pensar quantos séculos ainda serão necessários para que as mulheres negras sejam devidamente respeitadas no Brasil? Até quando vamos assistir aos assassinos serem blindados por outros homens e seus crimes passarem impunes?
Nise casou com o médico sanitarista Mário Magalhães da Silveira, não tiveram filhos e viveram juntos até o falecimento dele em 1986. Em 1927 morreu o pai de Nise, sua mãe já havia falecido e, naquele ano, junto com seu marido, mudou-se para o Rio de Janeiro para atuarem no campo da medicina. Lá, em 1933, passou em um concurso público para o Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, iniciando assim o trabalho que a tornaria um exemplo de mudança na forma invasiva e autoritária de tratamento psiquiátrico adotado na época. Por discordar dos métodos praticados nas enfermarias e se recusar a aplicar eletrochoques em pacientes, Nise foi transferida para o cargo de “terapeuta ocupacional”, atividade então menosprezada pelos médicos.
A aproximação dos internos com os animais não humanos do Centro Psiquiátrico Pedro II começou por acaso quando foi encontrada uma cadelinha abandonada e faminta no terreno do hospital. Nise pegou-a, e, percebendo a atenção de um dos internos, perguntou-lhe se gostaria de tomar conta do bichinho “com muito cuidado”. Diante da resposta afirmativa, deu o nome à cachorrinha de Caralâmpia (inspirada em uma personagem do livro A terra dos meninos pelados, de Graciliano Ramos).

Maria Lacerda faleceu no dia 20 de março de 1945, na cidade do Rio de Janeiro, aos 57 anos. Teve uma vida curta, mas muito intensa, que precisa ser lembrada, contada, reverberada. Sua experiência em Guararema pode nos dizer muito sobre a necessidade de economias solidárias, sobre o vegetarianismo e a ética com relação às outras espécies, sobre as comunidades libertárias, a vida no campo, o meio ambiente, a produção e o consumo de alimentos orgânicos, sobretudo nestes tempos de envenenamento dos nossos corpos, do nosso solo, das nossas águas e, por que não dizer, da vida planetária. Seus diversos escritos estão espalhados por aí em jornais, livros, livretos, revistas etc. à espera de outros diálogos.


Em 1910, ela media 1,82cm de altura, pesava quase 100 kg e exibia um bíceps de mais de 40 cm de diâmetro. Apresentava-se como a mulher mais forte do mundo e fez exibições em vários países na Europa e no continente americano, local para onde se transferiu, definitivamente, na década de 1920. Foi em 1902, nos Estados Unidos, que vivenciou a experiência que lhe conferiu uma mudança radical: em um pequeno clube atlético de Nova York, ela participou de um desafio de força com Eugene Sandow no qual sagrou-se vencedora ao levantar 130 kg acima de sua cabeça, enquanto o conhecido fisiculturista não conseguiu erguê-la além da altura do peito. O nome Sandwina passou a circular ao redor do mundo desde aquele dia. Após a vitória, ela adotou o nome artístico Sandwina, tendo em vista a importância de Sandow no cenário internacional dos esportes de força.